sexta-feira, 1 de junho de 2018

Umbral


Encostei-me ao teu umbral. Mesmo sem saber se a tua existência era agora ampla ou, se a porta da tua vida permanecia como sempre, aberta.
Lembrei-me só, de que havia uma largueza quando se chegava. Uma largueza de escadas, de hall de entrada a cheirar a fruta da época.  Uma largueza da cor da fruta da época, tombada em matizes de maturação nesse teu lugar.
Nunca me imaginei assim, acredita, encostada ao teu umbral.
Ergui os olhos e percebi,  que não havia  chuva nem sangue, nem a cor pálida do teu silêncio. Só um naufrágio amendoado de corpos que ficam, que se deixam ficar e  que não permite tudo.
O travesseiro atravessava-me o pescoço e prendia-me a respiração. Do lado de lá, vi que permanecias.  Permanecias no teu lugar exíguo, com vista inteira para o saguão... (...)

8 comentários:


  1. Por vezes acontece, sim. Quando menos se espera aquele é o umbral mesmo feito à nossa medida. Ali descansamos o olhar, aspiramos o ar feito de mil odores. Sopesamos as coisas da vida e verificamos que ali é o nosso lugar.

    Bj

    Olinda

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  2. É lindíssimo, mas faltou-me o resto, faltou-me o resto…

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    1. O resto é o percurso de cada um...ou o de todos, á medida de cada um. Bj

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  3. Todas as vidas têm um saguão…
    Uns com vistas mais amplas e aromas florais, outros mais escuros e com cheiro a mofo.
    Será que a existência de cada ser, exige a existência de um saguão...?

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    1. Exige. É a única forma de perceber a amplitude. Quem nunca asfixiou não (se) sabe inspirar.

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