quinta-feira, 5 de abril de 2012

Gramática de um amor indiferente

Lembro-me muito vagamente, que começava sempre com orações intercaladas, absolutas.
Invariavelmente, na terceira pessoa do plural.
Não sei se eram elementos complementares do significado, se implicativos, mesmo, do coração.
Havia predicados, às dezenas, que se passeavam de mãos dadas a adjectivos coloridos e vibrantes.. Qual deles o mais bonito.
Com o tempo, foi ficando, sobretudo o verbo. Poderoso e directo.  Um bocadinho alheio a atributos e opostos, a determinativos...mas ainda assim o verbo, sempre em passada larga de concordância, com ambos, os sujeitos.
Era assim que fazia sentido: num discurso directo e claro. Sem outra categoria que a da emoção.
Em uníssono, o substantivo próprio. Com  número afectivo e,  particularidade absoluta, de ternura.
 Todos os hífens que nos encantam a memória eram tónicos. E,  faziam-nos deslizar os dias,  intercalados de coisas-e-sentimentos-parecidos-com-o-mar-feito-de-pele.

Não sei onde entraram os artigos...sobretudo os indefinidos...não me lembro sequer do dia...se foi por acaso, se pela mão de um superlativo maior.
O que sei é que acordei sem pronome. 
Percebi  então, que tudo, era afinal, relativo.
Justifiquei sem vírgulas. E numa ausência total de pontuação, troquei o condicional, pela primeira pessoa do singular.


A fotografia  é  de uma obra, do escultor em Lego, Nathan Sawaya


36 comentários:

  1. Cada vez acredito mais que as palavras a si lhe escorregam pelos cotovelos!
    Mas não lhe saem da boca, não!
    Talvez de coisas-e-sentimentos-parecidos-com-o- mar-feito-de-pele?!! Talvez venham daí...

    Mais uma vez parabéns por este texto!
    É sempre um prazer ler o que escreve.
    Abraço
    Sónia

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  2. Obrigada Sónia
    Um dia tenho que descobrir de onde vêm as palavras...talvez também seja dos comentários do blogue :)
    Bj

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  3. Muito bom o texto!
    Feliz Páscoa.
    Beijinho. :)

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    1. Obrigada Ana.
      Uma Páscoa feliz, também para si.
      Beijinho

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  4. Uma bela lição de gramática onde os sentimentos se entrecruzam por via dela.
    Um texto excelentemente... conjugado!

    Aproveita bem também estes dias que o calendário nos permite para um descanso merecido.

    Beijos,

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  5. Perdi-me neste post e vou ter que revisionar toda a gramática portuguesa ;)

    Votos de uma excelente Páscoa, beijinhos!

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  6. Gostei muito do comentário que deixou no Interioridades.

    Uma Feliz Páscoa!

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    1. Obrigada.
      Passeios longos, muitas vezes silenciosos no interioridades, que convidam à reflexão.

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  7. A lógica da semântica pode ser o que uma Mulher quiser. No seu caso, pode e deve ser uma imensidão. Mais um excelente texto.

    Excelente Páscoa, um beijinho,
    Paulo

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    1. À gramática, confesso, toco-lhe as voltas. Às vezes, tem que ser...
      Semântica vem de Sema. Sinal, em Grego. Uma coisa muito feminina, sim.
      Um beijinho e boa Páscoa

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  8. Vi os seus comentários no meu blogue e resolvi vir até aqui.
    Parabéns pela beleza dos seus textos e também das imagens escolhidas.
    Prometo ir voltando :-)
    Saudações

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    1. Luís Bonito,

      Será sempre bem vindo.
      Descobri o seu blogue de que gostei .(ainda sou novata na blogosfera)
      Uma Boa Páscoa

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  9. Passo para deixar votos de Boas Páscoa. Voltarei mais calmamente para me por em dia com os posts daqui, já que tenho andado arredada destes caminhos blogueiros. :)

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  10. Também gosto muito de palavras, embora as use sem poesia. Não é o seu caso. Parabéns pelo texto e Boa Páscoa (quase no fim).

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    1. A Páscoa quase no fim, que se pode fazer recomeço todos os dias...
      Obrigada pelas suas simpáticas palavras, lá se vai andando, nas voltas das palavras

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  11. um texto a que se impõe gramática.

    inovador sem duvida.

    bom domingo de Páscoa.

    beij

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    1. Uma gramática de emoções...longe de compêndios :)
      Obrigada :)
      Bj

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  12. Um texto original e muito bem construído.

    Um verbo é sempre "poderoso e directo", se não abusarmos dos condicionais ;)

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    1. Ora aí é que está...quando se abusa dos condicionais, mete-se-lhe uma vírgula e remata-se a ponto de capote:um extraordinário, final parágrafo.
      Que venham os Verbos, no imperativo! :)

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  13. Um texto criativo. Gostoso de ler! Sensível e delicado. Convidativo! Bjs

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  14. Um post superlativo com humor entre parênteses e um ponto de exclamação no final. Muito bom!
    Espero que tenha tido uma Páscoa Feliz. Por razões que me são alheias não pude passar por aqui em tempo para agradecer as amêndoas que me levou ao Rochedo.
    Obrigado

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    1. Obrigada CBO.

      As amêndoas continuam muito bem vindas.
      É sempre um gosto passar pelo seu Rochedo

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  15. Faltam-me os adjectivos para falar do teu texto...

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  16. O Tempo... esse intrometido, atrevido, capaz de regular o verbo, impedindo o predicado de exprimir a acção do sujeito...
    Para quê os complementos directos, se o tempo é o manipulador soberano e nos coloca na posição de ditongos ou de hiatos, conforme lhe dá na real gana?!
    ;)

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    1. Bem Bartolomeu, isso parece-me mesmo, próximo do infinito.:)

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  17. Com ponto de exclamação, mas sem ponto final, desejo-lhe uma boa semana!
    Gostei muito do texto.

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    1. Obrigada Pedro Coimbra.
      Gramáticas de emoções sem pontos finais, são boas...
      Uma boa semana também para si.

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  18. Ai as vírgulas, relativizam tudo...

    bj

    Olinda

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  19. "No principio era o Verbo"... tudo o mais são adjectivos, em que apenas alguns nomes contam...

    subvertes a gramática. parece-me muito bem.

    beijo

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