domingo, 10 de janeiro de 2021

Sonhos

 



Acordámos assim, os braços submersos, debaixo de um suspiro longo e cremoso. A noite, deslizada que fora em calda de açúcar, cobrira-nos as almas outrora vestidas de verde. Todas as almas outrora vestidas de verde. E as outras, já matizadas pelos primeiros rigores do Outono, num tom amarelado, pálido e indiferente.
Não havia agora, nenhuma sombra de dúvida que restaríamos neste abraço. Os sonhos amortalhados, lado a lado, até ao raiar da Primavera.
Gotas de chuva grossa invadiam os espaços e afogavam qualquer pensamento que tentasse emergir.
Por dentro, os braços submersos evitavam a todo o custo o ar que sempre se esgueira de um suspiro.
Os olhos ainda semicerrados permitiam apenas negas de luz.
Dos sonhos não restava quase nada a não ser o vazio silencioso.
Acordámos assim e,  assim  iremos  permanecer. 


Imagem: "Chopin de George Sand" de Eugène Delacroix  


6 comentários:

  1. Acordar na languidez de um sonho,é o suficiente para que o dia ganhe um novo sentido e a vida se faça com esperança!Feliz dia!

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. São sonhos Concha. Só sonhos. Um feliz dia para si também

      Eliminar
  2. Duas figuras que "amo". Separadas ou não contaram imenso para a "nossa" verdadeira Cultura. Um beijo e sonhemos...

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Resta-nos isso nestes tempos conturbados. São duas figuras de que muito gosto: Chopin e George Sand.
      Um beijo

      Eliminar
  3. Respostas
    1. Sempre. E se persistem em adormecer cabe-nos a nós acordá-los.
      Obrigada

      Eliminar