segunda-feira, 22 de junho de 2020

Caminho numa recta absoluta



Devagarinho, acomodou-se no nicho. As pernas de encontro ao queixo, no único lugar que lhe permitiria permanecer, até que a luz o invadisse de novo.
Toda a noite as badaladas ecoaram um sibilante: tzim tzum, tzim tzum, tzim tzum sem que uma única fresta lhe traçasse  um caminho.
Seria qualquer um,  esse caminho, menos a o da escuridão… Tizm tzum, tzim tzum, tzimtzum
Adormeceu algures, entre a terra, o seu coração e a eternidade, embalado pela branda presença do som que lhe lembrava um outro amanhecer .
Quando acordou reparou que a única porta fechada lhe estendia uma recta absoluta. Com os olhos semiabertos, decidiu-se então começar a caminhar.

Imagem: " Mandola" Georges Braque 1910

7 comentários:

  1. Numa posição de espera paciente,aguardou que a luz da manhã lhe permitisse encontrar o caminho!A
    verdadeira possibilidade...pela porta fechada!

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    1. A luz chega mesmo através de uma porta fechada. por vezes, quem sabe, está no interior...
      Obrigada

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  2. Gosto dos teus textos Filipa, passo por vezes mas não deixo comentário. O meu tempo livre "esvai-se" muito depressa. Lindo o Braque também. Tantos cruzamentos...

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    1. O tempo é precioso e agradeço-lhe o bocadinho que dedica a este espaço. É sempre muito bem-vinda.
      Obrigada

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  3. Não há portas fechadas para a luz interior...

    Deixo um abraço.
    Bom fim de semana.

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  4. É verdade. Esperemos que assim seja sempre. Precisamos de luz. Uma boa semana e obrigada
    Um abraço

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