segunda-feira, 16 de maio de 2016

Existência, num murmúrio, no fundo do coração




Desenhou uma espiral na estrada da casa, a afunilar directamente, à estrada do pensamento.
Não se percebia muito bem, da porta, quantos passos se teriam que dar, para ultrapassar toda a realidade, rodar a maçaneta aos sonhos e, desembocar numa passadeira, sem vivalma.
Mandava então parar o tempo, aquietar o espaço e seguia.
A viagem era sempre a da existência, sem destino preciso nem direccão definida.
Guiava-o uma bússola que herdara do seu avô. E, um marca-passos amarelado, de vitrine partida e ponteiros seguros por um elástico, que lhe permitia contar toda a vida, segundo a segundo, por uma boa parte da eternidade.
Todos os dias percorria sozinho, uma boa parte da eternidade,
Não havia nem esperança nem contemplações na viagem.As bermas  permaneciam inertes e a paisagem, permanentemente indefinida.
Depois de horas a repensar o que o levara, pesava outras tantas a ensimesmar-se sobre o que o traria...
Ainda hesitou, por um dia, desviar-se. a causa, foi um pequeno murmúrio, que pareceu ouvir, do fundo do coração (...)

12 comentários:

  1. frágeis são os passos...
    e, no entanto, nada demove o itinerário do coração.

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    1. Tem bussola Herético. às vezes o que não tem é o campo magnético definido :)

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  2. ~~~
    Singular, porém, interessante e belo, Filipa.
    ~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~

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  3. Insondáveis palavras nos mastros mais altos

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    1. O cesto da gávea é muito mais complexo do que se possa supor.

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  4. 'Todos os dias percorria sozinho, uma boa parte da eternidade,' - verso intenso. e lindo.

    Gostei!

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  5. Talvez a bússola herdada fosse só o que precisava para escutar o coração!Bj.

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